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Expresso Paris ( http://expressoparis.com )

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Expresso Paris

a arte Combo

“Je tiens ce monde pour ce qu’il est : un dessin animé où chacun doit jouer son rôle.”

Desde poucos meses, eu comecei a encontrar algumas imagens curiosas nas paredes dos passeios parisienses. Fotos célebres, inicialmente sérias, modificadas(melhoradas, eu diria) com colagens que inserem personagens infantis ao contexto original. Uma espécie de mashup.  O(A)(s) artista(s) assina(m) o trabalho como Combo. Talvez o nome remeta à ‘combination’. Talvez não…

Obviamente, os personagens não são escolhidos ao acaso.

mais fotos aqui

stations-fantômes: Saint-Martin

As duas publicidades acima co-existem há mais de 60 anos, sem uma única nódoa de spray nem qualquer risco trazido pelas intervenções corriqueiras nesse tipo de imagem. ‘Tu déconnes’, desdenha estarrecido o interlocutor francês. Pois é, meu caro, e os que vivem por aqui ja estão calvos de saber que somente dois cenários dariam sentido a esse lero: ou o excesso de câmeras no bigbrother da vigilância pública, ou um local absolutamente inacessível, e que, por acaso, é o caso.
Esses dois belos anúncios jazem tranquilos nas brenhas escuras da estação Saint-Martin, a maior e mais interessante dentre as estações-fantasmas.

Pouco antes da segunda guerra mundial, os franceses, noiados, esboçaram planos de contingência para o caso de invasões, que incluiam, inclusive, o fechamento de algumas estações consideradas não-essenciais. Baixada a poeira, a Saint-Martin foi re-aberta, mas, pouco depois, a grande aproximação com as estaçoes vizinhas inviabilizou o seu funcionamento e acabou culminando no fechamento definitivo.

A breve re-abertura, na década de 40, promoveu o uso de publicidades semi-permanentes, em cerâmicas pintadas, onde anunciantes pagariam taxas anuais.

Saint-Martin é o ponto de intersecção de duas linhas ativas: 8 e 9, estando entre Strasbourg Saint-Denis e Republique. Ou seja, é uma estação de 4 plataformas, usada, na época, pra baldeações de trajetos.

Beat Hotel

O beat hotel não tinha nome nem água quente todos os dias da semana, apenas nas quartas, quintas e sábados. Não era exatamente um hotel, se tratava de uma pensão, talvez a mais barata, no umbigo de Paris, em meados dos anos 50. Era administrado por um casal simpatizante das artes marginais, que, de vez em quando, aceitava uma tela ou umas poesias como forma de pagamento. Foi por essa razão que o lugar passou a ser cobiçado por artistas escritores, músicos, fotógrafos, entre outros métiers.

E nesse contexto, chegava em Paris, vindo dos EUA, uma meia dúzia de vagabundos iluminados, escritores beatniks que mendigavam inspiração numa cidade que arreganhava as pernas pro mundo inteiro.

Exatamente nesse prédio, na rue Gît-le-Cœur, co-habitaram, inicialmente, Allen Ginsberg e seu amante Peter Orlovsky. Pouco depois, chegam William Burroughs, Gregory Corso, Ian soomerville e Brion Gysin. Poderíamos apelidar o evento de ‘pororoca do caos’. Chapados,  frequentavam a famigerada Shakespare and Company -pitoresca livraria de língua inglesa, ainda hoje em funcionamento, dois quarteirões ao lado-  e produziam suas mal traçadas…

Foi no beat hotel que Ginsberg escreve Kaddish, o mais famoso dos seus poemas. Foi naquele mesmo local que Burroughs terminou Naked Lunch, sua mais célebre cria. Foi também nesse lugar que um fotógrafo chamado Harold Cheapman registrou o dia-dia desses lunáticos geniais.

Hoje, o mesmo prédio virou um glamouroso hotel de luxo. Na entrada, uma pequena placa faz referência aos antigos hóspedes, alavancando ainda mais os preços mega-salgados.

Abaixo, o trailer de um filme recentemente terminado, com depoimentos e imagens do fotógrafo supracitado.

Exposição ‘1000 Invaders’

lembram de uma publicação antiga, aqui nesse blog, sobre os Invaders? Pois bem, essa semana abriu uma exposição, anunciando a milésima intervenção urbana, em Paris, dessas belas criaturas . O vídeo a seguir, usado como trailer do evento, registra a ocasião.

quem me acompanha?

stations-fantômes: Croix-Rouge e Arsenal

Em publicação recente, citei uma estação desativada  a qual cruzei por acaso, dia desses,  em passeio tranquilo na linha 10 do metrô de Paris. O google me contou, depois, que o que eu vi, na verdade, foi  a Croix-Rouge, uma das estações-fantasmas da cidade. Aproveito o ensejo pra tentar escrever um pouco sobre o tema, começando por duas estações de passados parecidos: Croix-Rouge e Arsenal, ambas fechadas no dia 2 de setembro de 1939. Diz-se que foi a aproximação da segunda guerra mundial que acabou convocando os funcionários da Compagnie du chemin de fer métropolitain de Paris (CMP),  forçando a desativação de alguns pontos da malha subterrânea.

Croix-rouge

Funcionava como terminal da linha 10, mas a grande proximidade das estações de Sèvres-Babylone e Mabillon inviabilizaram a reabertura da Croix-Rouge, que permanece fechada e opressivamente imunda até hoje.


Arsenal

Situada na linha 5, entre Bastille e Quai de la Rapée, apesar de fechada pelo mesmo motivo citado acima, hoje está pelada, sem aquelas cerâmicas brancas que caraterizam  as estações, e serve de depósito pra RATP.

Princess Hijab

Um fenômeno interessante acontece nos cartazes publicitários de Paris, principalmente naqueles dispostos nas passarelas das estações de metrô/trem. Nota-se uma grande quantidade de intervenções populares sob as propagandas, sejam elas rabiscos, vandalismos, desenhos, ou comentários espirituosos. Pessoas que aproveitam a ocasião pra depreciar, ajuntar algum detalhe, ou dar aquele retoque poético ao espaço público. Dentre esses criativos agentes do caos, um deles, ou melhor, uma, tem destaque: Princess Hijab. Nos tempos em que a controversa proibição da burca anda em voga, convém citar essa belezura. Anônima, como não poderia deixar de ser, atua discretamente, na surdina, colocando hijabs(vestimenta muçulmana) ou niqabs(burca) nos belíssimos posers estampados em anúncios aleatórios. Em entrevista, diz que o que faz não tem nada a ver com religião, c’est de l’art tout simplement


A princesa aparece sempre no período da noite, trajando algo entre roupa e fantasia, e niqabiza unicamente imagens que encontra nas estações de metrô. Seguramente, sua arte, apesar de efêmera, recebe mais visitas do que incontáveis obras de museu.

Descobri, enquanto escrevia essas linhas, que Princess Hijab faz parte do famigerado guerrilla girls, coletivo de artistas mulheres que lutam por mais espaço feminino nas galerias e exposições do mundo.

Não hesite em assistir o vídeo a seguir:

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

Roland Godard

Sempre me deparo com esse tipo, tocando uma pianola mambembe pra amolengar o passeio público nas calçadas da ille de saint-louis.  Certa vez tentei puxar um lero, trocar uma idéia, saber se ele morava nos arredores, mas o coroa não responde nada objetivamente e acaba por nada dizer. Sei que, nas antigas, ele também trabalhava como cozinheiro, e foi o pianista de Boby Lapointe, cantor que desconheço, mas parece que não soa estranho nos ouvidos franceses. Fiquei sabendo que alguém, um dia, gravou um curta-metragem sobre essa figura, chamado ” La momie à mi-mots”. Quem achar algum link pra download, favor me enviar. O figurino e cigarro fazem de  Roland Godard um arquétipo misterioso.  Apesar de conhecido no quai de bourbon, me parece que ele também é famoso pelas aparições no mercado de pulgas de Vanves…

paris underground

Paris é uma cidade oca. Abaixo daquela sua calçada preferida tem sempre um metrô, trem, catacumba, enfim, é oca! Todo esse universo somado à gigantesca malha de passagens subterrâneas do esgoto, deixa tudo ainda mais oco. A sensação é de nunca pisar exatamente no chão.
Umberto Eco, no absolutamente-fantástico “Pêndulo de Foucault”, falou sobre redes maçons, templários e rosacruzes habitando e conspirando abaixo das ruas da cidade. A maravilhosa arte do boato e o seu poder infalível de nos fazer acreditar no que sabemos ser mentira. Essa pilhéria acaba construindo uma imagem meio mítica no imaginário de quem ouve, daqui de cima, as mais diversas lendas urbanas sobre o subsolo parisiense. O certo é que uma parte bastante pequena desse universo é acessível ao público, o que explica a eterna onda de suposições e palas sensacionais.

Dias atrás, na euforia habitual das noites de sexta-feira, eu voltava pra casa mezzo bêbado, por volta da meia-noite, sentado no metrô. De repente, no meio da penumbra do trajeto, notei que estava cruzando uma estação fantasma, desativada,  escura.

-“que porra foi essa?!”, pensei intrigado.

*em breve vou tentar pesquisar e escrever sobre as estações fantasmas de Paris. Nesse instante eu estou com preguiça.

“C’était un rendez-vous”: O polêmico curta de Claude Lelouch

Um curtametragem de Claude Lelouch, acessível facilmente desde a internet, circula recheado de lendas sobre sua produção.  O video me foi apresentado pela primeira vez num blog qualquer, anexado a um texto que contava que se tratava de uma obra mega-underground de 1978, onde um amigo do cineasta, piloto, dirigia uma mercedez a mais de 300km/h(!) em Paris.  O boato também conta que o escândalo do lançamento rendeu cadeia ao diretor. Infelizmente é mentira. A maior balela da paróquia.  Em entrevista publicada no livro “Claude Lelouch, mode d’emploi”, algumas informações foram finalmente esclarecidas: o filme foi feito em 1976 com o que sobrou da película de um longa recém terminado, e que era suficiente pra um curta de 10 minutos. Claude Lelouch, que tinha uma obsessão por filmar um roteiro sobre um suposto carro correndo atrasado pra um encontro, resolveu finalmente botar a mão na massa. O motorista foi o próprio diretor, que não passou dos 200km/h e não foi preso no lançamento, apesar de ter sido sim, polêmico.

O filme é bom, e acorda o irresponsável que dorme tranquilo dentro de nós.

*aos interessados, video/entrevista interessante com o diretor refazendo o trajeto original, aqui!